sexta-feira, 11 de julho de 2008

' Pensamentos latentes do meu sonho'

Em uma de suas mais consagradas obras, 'A Interpretação de Sonhos', Sigmund Freud, nos revela um pouco sobre o que passa na nossa mente enquanto dormimos. Imagens oníricas e fantasiosas seriam mero acaso? Não. Os sonhos são o palco de nosso teatro mental, de nossa representação que busca satisfazer os desejos mais arraigados no fundo de nosso âmago e perpassam um pouco daquilo que constitui nossos valores mais íntimos.
A esmagadora influência de nosso ' Superego' em todos os nossos atos é fenomenal. Esta censura, recriminação imposta pela nossa mente aos nossos mais variados comportamentos é atuante, inclusive, naquilo que sonhamos. Ela apenas 'baixa um pouco' a sua guarda e deixa que os limites de nossa imaginação corram em rédeas mais frouxas.
Por isso encenamos, iventamos e nos ' perdemos entre monstros de nossa própria criação', parafraseando Renato Russo. Desfarçamos nosso real 'Eu' e o conteúdo de nossas mentes, tentando ,por assim dizer, esconder de nossa censura ( Superego) aqueles comportamentos que consideramos vis, escabrosos.
A parte mitólogica de nossos sonhos, o enredo que conseguimos recordar no outro dia, é chamado pelo pai da psicanálise de ' conteúdo manifesto do sonho'. Nela vemos ' Sacis Pererês' ' Viajamos o mundo sobre as asas de um gavião, temos um final feliz com o amor de nossas vidas. Até mesmo visualizamos objetos e imagens sem nexo, imaginamos coisas que não têm sentido algum.
No entanto, é nas entrelinhas de nossas historinhas mais bobas que está o que realmente queremos dizer. É, nos termos de Freud, 'nos pensamentos latentes do sonho' que estão dissimulados os nossos prazeres ocultos, os nossos 'quereres proibidos'.
Na noite passada sonhei com uma menina que roubava, em pequenas quantidades, miudezas por onde passava. Primeiro ela foi à um supermercado, e roubou pequenos gomos de uvas na sessão de hortifrute. Depois, foi à um armarinho, e afanou botões. Por fim, lá nas reminescências do meu sonho, roubava ' bibelôs' de um ambiente residencial que se assemelhava muito à minha casa. A menina era loura, tinha um aspecto europeu e cara de' menina bem criada.' Este é o conteúdo manifesto do meu sonho.
Qual poderia ser o conteúdo latente dessa projeção mental, a primeira vista sem grande importância? Vejamos, através do método da livre associação, o que se subtrai de meu ' Palco Mental'. Seria eu uma pessoa extremamente apegada a miudezas? 'Cacarenta' e rancorosa com pequenos detalhes, que para os outros são banalidades? Seria eu avarenta, egoísta e afeita a bagatelas? Estaria eu, presa ao protótipo europeu de beleza e de perfeição? Buscaria eu um ideal de beleza, que seria o protótipo da coletividade loira, tez clara e estatura alta? Seria eu uma pessoa que se sentiu discriminada na infância por meus comportamentos censuráveis? Por fim, estou eu na fase adulta, mas presa a medos e comportamentos infantis?
Bem, são 'n' interpretações. Ninguém pode dizer ao certo o que se passa realmente na nossa mente. Por isso, vamos em frente, questionando e criando hipóteses através de livre julgamento e associação. Vamos nos desvendando e figurando, de incontáveis maneiras, aquilo que realmente somos e o que perpassa no interior de nossa 'psiqué'.

Nenhum comentário: