domingo, 22 de junho de 2008

Profissão: Pedinte.


' Eu poderia estar matando, estar roubando, mas estou aqui pedindo a vossa colaboração. Aceito dinheiro, cheques-predatados e vale- transporte'

Definitivamente, eu não me enquadro em nada no perfil de ' pedinte de ônibus'. Senão acreditas, vejamos o porquê:

  • Primeiro, eu não me enquadro em nenhuma das categorias 'preferenciais' para as quais você daria os seus contados 'trocados'. Não sou menor, já não sou capaz de utilizar os meus olhos redondos e infantis, estender as minhas mãozinhas em tom de humildade e de fazer cara de fome e de desespero. Tampouco, sou uma velhinha menosprezada e esquecida pela família, que não pode mais trabalhar e causa tristeza em você por estar passando os últimos dias de sua vida em uma atividade tão humilhante quanto a de pedir e contar com a ajuda de desconhecidos pra viver. Vejam só vocês, não tenho nem um cachorro com cara esfomiado e ossos dos quadris e costelas aparecendo para sensibilizar você.
  • Segundo, mulheres da minha idade pedindo dinheiro em ônibus? Você já viu? Não. O setor de Recursos Humanos( RH) da vida nos manda para outra classe de ' serviço'. As dignas viram faxineiras, estudantes, trabalhadoras de sol a sol, mantenedoras de suas famílias e, por que não, ' Sustentadoras de Maridos Vagabundos'. As que optam pela via tangente também são recepcionadas pelo mercado, viram ' prostitutas', 'acompanhantes' e colaboradoras de jornais na sessão ' amizades'.
  • E o argumento arrebatador e que irá tirar qualquer dúvida que ainda pode perpassar na sua cabeça: EU NÃO ANDO DE ÔNIBUS. Não que eu me ache o suprassumo da raça humana e não queira me misturar com a classe trabalhadora que vai todos os dias 'entulhada' feito sardinha amassada dentro dos transportes coletivos. Não! Eu definitivamente seria um perigo aos meus semelhantes que, porventura, estivessem dividindo o ônibus comigo. Sou desengonçada demais, piso nos pés das pessoas, tropesso, me desequilibro com a frenagem do ônibus, ando sempre lotada de papéis e de processos, enfim, sou um risco para ambas as partes. E, para piorar ainda mais a macabra e hilária ' escena', sou grande demais para as cadeirinhas do ônibus.Já pensou se enfiar em uma viagem inteira com os joelhos encostando na poltrona da frente? Eu chegaria no destino final com uma dormência terrível e praticamente sem rótulas. Enfim, caronas benvindas e ônibus só para situações estritamente necessárias.
Bem, existe gente que nasceu pra alguma coisa e tem um sonho de se realizar fazendo o que gosta. Ainda bem que eu tenho um pouco de senso e não resolvi ser ' pedinte de ônibus'. Eu morreria de fome, desesperada e caida no chão dos coletivos. Ainda bem que eu resolvi ser advogada.

Um comentário:

Penny Lane disse...

hahahaha, é... eu sofro nos ônibus que as poltronas são apertadinhas, mas fazer o quê? :~